Incondicional

Eu lhes dou este novo mandamento: amem uns aos outros. Assim como eu os amei, amem também uns aos outros. Se tiverem amor uns pelos outros, todos saberão que vocês são meus discípulos.” (João 13:34-35)
É comum se ouvir falar no amor incondicional de Jesus, o amor "ágape", fruto de uma decisão pessoal, de uma atitude pró-ativa, que não espera algo que o estimule ou recompense, pois crê que a justiça será exercida pelo Pai, em tempo próprio (Romanos 2:6-10). O escritor Emerson Eggerichs, em seu livro "Amor e Respeito", dedicado ao casamento, fala, semelhantemente, do "respeito incondicional" no relacionamento entre cônjuges, como uma atitude necessária e independente, que não pode requerer uma condição anterior para que seja exercido (merecimento), como prega a nossa sociedade. No entanto, tenho percebido, ao longo da jornada cristã, que "incondicional" não é uma característica que se limita ao amor ou ao respeito, apenas, mas, ao “ser cristão”; é, talvez, a característica mais marcante e essencial de um seguidor de Cristo, que, ao decidir, pessoalmente, imitá-lo, deve ter uma atitude completamente incondicional, em todos os sentidos.
“Então Pedro chegou perto de Jesus e perguntou: ‘Senhor, quantas vezes devo perdoar o meu irmão que peca contra mim? Sete vezes?’ ‘Não!’ Respondeu Jesus. ‘Você não deve perdoar sete vezes, mas setenta e sete vezes.’ ” (Mateus 18:21-22)
Quando Pedro questionou Jesus sobre qual deveria ser o “limite de tolerância” em relação aos erros do próximo contra ele, não recebeu, talvez, a resposta que esperava. Perdoar uma vez já é algo muito difícil para o coração duro do ser humano (Mateus 19:8), mas, Jesus, ensinava ao seu discípulo que não há limites para se exercer o perdão; ele seguiu explicando a Pedro, através de parábola, que a nossa dívida diante do Criador, fora perdoada, mesmo sendo “impagável”; muito maior do que a dívida de um semelhante para conosco, mas, Deus, perdoou, incondicionalmente, ou seja, sem impor condições ou pensar se havia “merecimento”; assim devemos fazer em relação ao próximo, sem pensar se as suas chances já foram “mais do que suficientes”; se ele merece ou não; deve ser algo completo, perfeito, definitivo e isento de julgamentos e imposições.
"Portanto, não julguem ninguém antes da hora; esperem o julgamento final, quando o Senhor vier. Ele trará para a luz os segredos escondidos no escuro e mostrará as intenções que estão no coração das pessoas. Então cada um receberá de Deus os elogios que merece." (1Coríntios 4:5)
A decisão de se tornar um seguidor de Cristo deve ser pessoal, e de todo o coração, não pode ser imposta; mas, somente, proposta e detalhada, a fim de que aquele que recebe o “convite” possa decidir da maneira que Deus espera. Da mesma forma, quando alguém erra conosco, ou quando vemos um erro de um semelhante, sendo um cristão, ou não, podemos expressar o que sentimos, com mansidão (2 Timóteo 4:2/Levítico 19:16-18), e, no caso de um discípulo, colocar a situação à luz das escrituras; mas, isso deve acontecer com uma motivação de “fazer o bem”; amar; instruir, segundo a justiça de Deus; e não de julgar; condenar e punir, segundo preceitos humanos. O Senhor espera que nos relacionemos intensamente, que aprendamos a agir como Jesus, sem arrogância; prepotência; orgulho; mas, com humildade, resignação e exemplo. Não devemos exigir um tipo de “comportamento ideal” das pessoas; mas, sim, buscar, em nós mesmos, profundas transformações que causem impacto nos outros; possibilitando crescimento mútuo. Quem julgará a cada um, no tempo certo, será Deus.
“E o Senhor disse a Moisés: ‘Pegue a vara, e com o seu irmão Arão reúna a comunidade e diante desta fale àquela rocha, e ela verterá água. Vocês tirarão água da rocha para a comunidade e os rebanhos beberem’. Então, como Deus havia ordenado, Moisés pegou o bastão que estava diante de Deus, o Senhor. Moisés e Arão reuniram o povo em frente da rocha, e Moisés disse: Agora escute, gente rebelde! Será que vamos ter de fazer sair água desta rocha para vocês?
Moisés levantou a mão, bateu na rocha duas vezes com o bastão, e saiu muita água. E o povo e os animais beberam.Porém o Senhor disse a Moisés e a Arão:‘Vocês não tiveram fé suficiente para fazer com que o povo de Israel reconhecesse o meu santo poder e por isso vocês não vão levá-los para a terra que prometi dar a eles’.” (Números 20:7-12)
Por vezes, como Moisés em “Meribá”, ficamos frustrados e irados com os outros, por colocarem em dúvida a obra de Deus ou a nossa crença; mas, como mostra o exemplo bíblico, o Senhor não desejava demonstrar raiva ou descontentamento, e, sim, o seu poder de cuidar do povo e cumprir a sua promessa. Quando nos relacionamos com outras pessoas, cristãos ou não, devemos zelar pela santidade de Deus, demonstrando que confiamos em seu plano, seguindo o caminho conforme ele espera (1Pe 1:15-16), e não com “severidade religiosa” ou “zelo humano”. Moisés, apesar de ser um grande profeta, que falava com Deus “face a face” (Êxodo 33:11), foi punido por não agir segundo à santidade do Criador, e não pôde desfrutar da conquista terrena da terra prometida e entregue ao povo que ele mesmo conduzira. (Deuteronômio 32:49-52)
Jesus demonstrou a sua atitude incondicional em inúmeras situações, desprezando a sabedoria humana; as regras religiosas e os padrões culturais da sua época (Mateus 15:7-9): Diante da “mulher adúltera” (João 8:1-11), foi manso, humilde, misericordioso; com a mulher samaritana (João 4:1-26), foi sensível e sábio; suportou um falso amigo, traidor, durante muito tempo, que andava ao seu lado, como seguidor (João 13:21); deixou-se prender (Mateus 26:52-53); foi julgado e condenado injustamente, e pediu por aqueles que o levaram à cruz; sabendo que deveria passar por tudo aquilo para o bem dos que nele creriam, e para que o plano de Deus fosse cumprido (Mateus 26:54); enfim, Jesus, que era perfeito, suportou os pecados de amigos e inimigos, sem perder o seu foco; sem se deixar dominar por frustrações e sem dar brechas aos seus críticos para que pudessem acusá-lo de viver uma vida diferente da que ele pregava; era perfeito em seu exemplo e obediência ao Pai.
“Irmãos, apliquei essas coisas a mim e a Apolo por amor a vocês, para que aprendam de nós o que significa: “Não ultrapassem o que está escrito”. Assim, ninguém se orgulhe a favor de um homem em detrimento de outro. Pois quem torna você diferente de qualquer outra pessoa? O que você tem que não tenha recebido? E, se o recebeu, por que se orgulha, como se assim não fosse?” (1 Coríntios 4:6-7)
O cristianismo não é um conjunto de regras que homens criaram para merecerem o amor de Deus pelo seu cumprimento, mas é um estilo de vida próprio do Criador, diferente de qualquer padrão mundano, que deve levar a uma atitude de união; aprendizado mútuo; servidão e submissão que resulta em amor; misericórdia; perdão; paz; ou seja, a perfeita vontade do Senhor acima da nossa. Quando preciso parar para refletir se devo perdoar; amar; servir; etc; é porque estou agindo segundo padrões e expectativas humanas e mundanas, e não motivado pela graciosa mensagem do nosso Deus. No Pai, não há espaço para enquadramentos e julgamentos, mas, apenas para a prática da atitude incondicional de expressar as características divinas que estamos aprendendo e aperfeiçoando, em nossas vidas.
“Não devam nada a ninguém, a não ser o amor de uns pelos outros, pois aquele que ama seu próximo tem cumprido a Lei.” (Romanos 13:8)
“Portanto, você, por que julga seu irmão? E por que despreza seu irmão? Pois todos compareceremos diante do tribunal de Deus. Porque está escrito: ‘Por mim mesmo jurei’, diz o Senhor, ‘diante de mim todo joelho se dobrará e toda língua confessará que sou Deus’. Assim, cada um de nós prestará contas de si mesmo a Deus. Portanto, deixemos de julgar uns aos outros. Em vez disso, façamos o propósito de não pôr pedra de tropeço ou obstáculo no caminho do irmão.” (Romanos 14: 10-13)