Acessibilidade

“Pois Deus revelou a sua graça para dar a salvação a todos.” (Tito 2:11)
Nos dias de hoje, é muito comum se ouvir falar em “acessibilidade” e “inclusão” como elementos essenciais para o alcance da plena cidadania. Assuntos referentes ao acesso à informação; aos “meios digitais”; aos direitos civis e sociais; assim como à educação; saúde e cultura; são dos mais recorrentes, permeando inúmeras discussões sobre as tantas injustiças existentes em nossa sociedade; mas há um acesso que não depende de leis ou manifestações, foi dado, pela graça de Deus, a todos que desejarem:
“Deus aceita as pessoas por meio da fé que elas têm em Jesus Cristo. É assim que ele trata todos os que creem, pois não existe nenhuma diferença entre as pessoas. Todos pecaram e estão afastados da presença gloriosa de Deus. Mas, pela sua graça e sem exigir nada, Deus aceita todos por meio de Cristo Jesus, que os salva.” (Romanos 3:22-24)
Muitos pensam que o “ser cristão” está ligado ao cumprimento de certas regras e rituais impostos por homens e instituições, alguns, talvez, por acreditarem que tal postura é suficiente para diferenciar os “escolhidos” do “resto”; outros, por olharem para a vida segundo uma perspectiva puramente concreta e efêmera, o “aqui e agora”. Paulo fez o alerta: “Se a nossa esperança em Cristo só vale para esta vida, nós somos as pessoas mais infelizes deste mundo” (1 Coríntios 15:19); e, também: “Pois pela graça de Deus vocês são salvos por meio da fé. Isso não vem de vocês, mas é um presente dado por Deus. A salvação não é o resultado dos esforços de vocês; portanto, ninguém pode se orgulhar de tê-la.” (Efésios 2:8-9)
Nosso entendimento sobre o “estilo de vida cristão” deve conter duas premissas fundamentais: uma delas é que não é o mérito do homem, através de suas ações, que o torna “digno” do acesso à graça, mas, os filhos de Deus são “por Ele” reconhecidos, pela vida de fé, possível, apenas, por consequência da graça do Pai; a outra, é que a graça de Deus não tem o seu maior efeito nesta vida terrena, mas se manifestará, em sua plenitude, no futuro eterno; ou seja, o sucesso ou satisfação nesse mundo não representa a proximidade ou aprovação de Deus, assim como, o aparente sucesso dos “injustos” não significa que o Senhor não age, não se importa ou não existe; sendo assim, o cristão não deve ser aquele que se preocupa, excessivamente, com o sucesso mundano ou com o comodismo, mas, sim, aquele que vive confiante na esperança do futuro eterno, independente do quê enfrenta nessa vida.
“Portanto, a promessa de Deus depende da fé, a fim de que a promessa seja garantida como presente de Deus a todos os descendentes de Abraão. Ela não é somente para os que obedecem à lei, mas também para os que creem em Deus como Abraão creu, pois ele é o pai espiritual de todos nós.” (Romanos 4:16)
Abraão é um grande exemplo, tanto para os judeus como para os gentios, de como a fé deve ser empreendida, da maneira que agrade a Deus. A “forma” como Abraão creu, na verdade, está também ligada à obediência, mas motivada pela confiança na promessa (Gênesis 15:6); ele acreditou, verdadeiramente, que o Senhor poderia fazer algo completamente improvável, e aceitou entregar o seu único filho, o seu bem mais precioso, quando teve a sua fé provada por Deus (Gênesis 22:2-3). A história de Abraão nos ensina que o Senhor deve estar acima de tudo; mesmo as maravilhosas bênçãos que Ele nos concede, como a família; filhos; amigos; talentos; sucesso; etc; não podem transformar-se em um deus em nossas vidas, algo que prezamos mais do que o próprio Deus e que nos leva a vacilar em nossa fé e obediência, direcionando nossa vida pela satisfação egoísta e mundana, e, não, pela sã doutrina.
É necessário esclarecer que essa “obediência”, requerida pelo Senhor, e demonstrada por Abraão, é diferente da obediência à Lei realizada como um ritual vazio, simples cumprimento de obrigações religiosa, como aconteceu com os judeus (Mateus 9:15). O verdadeiro propósito da Lei de Moisés seria o mesmo, ou seja, a prática deveria refletir uma fé sincera e pura, confiante nas promessas do Senhor; mas, a maioria não compreendeu completamente o significado da Lei, o seu propósito foi desvirtuado, e tornou-se um deus para muitos. A prática da Lei, e o que é pior, das tradições criadas pelos líderes religiosos, supostamente “baseadas” nos princípios da Lei, tornaram-se mais importantes do que a sua essência, que deveria ser o reconhecimento da soberania do plano de Deus em detrimento da nossa própria “justiça” e “sabedoria”. Quando procuramos agir segundo os princípios bíblicos expressos, tanto nos mandamentos da Lei, como no Evangelho, por Cristo; por nos reconhecermos como seres incompletos sem o Criador, carentes da sua santa sabedoria, misericórdia e confiantes na sua recompensa eterna, estamos vivendo a fé segundo as expectativas do Pai e o exemplo de Abraão. A motivação é mais importante do que o discurso ou as próprias ações, aprendemos com Jesus que o filho que faz a vontade do Pai e o agrada não é o que diz que vai fazer o que Ele pede, mas o que faz, mesmo dizendo que não vai fazer:
“Jesus continuou: — E o que é que vocês acham disto? Certo homem tinha dois filhos. Ele foi falar com o mais velho e disse: “Filho, hoje você vai trabalhar na minha plantação de uvas.” — Ele respondeu: “Eu não quero ir.” Mas depois mudou de ideia e foi. — O pai foi e deu ao outro filho a mesma ordem. E este disse: “Sim, senhor.” Mas depois não foi. — Qual deles fez o que o pai queria? — perguntou Jesus.” (Mateus 21:28-31)
Percebe-se que a obediência vem por decisão pessoal do filho mais velho, por uma questão de consciência que se sobrepõe ao desejo pessoal; por, lá no fundo, dar importância à vontade do pai. O outro parece bajulador, aquele que quer dar a impressão de que se importa, mas, na hora “h”, coloca a sua vontade em primeiro lugar. Assim diferenciam-se os comprometidos dos religiosos: os comprometidos (obedientes) são os que decidem fazer a vontade de Deus, por convicção; fé; gratidão; amor; enfim; por reconhecerem a soberania e a misericórdia do Senhor em suas vidas, e não precisam anunciar os seus atos aos outros; já, os religiosos, são aqueles que pensam que a simples declaração do seu comprometimento é suficiente para serem reconhecidos como “homens de Deus”, ou, ainda, que o cumprimento de determinadas rotinas (regras/rituais), por si só, já os diferenciam, independente da real motivação que os levam a tomarem as suas decisões.
“O Senhor Deus diz: “Escutem, os que têm sede: venham beber água!Venham, os que não têm dinheiro: comprem comida e comam!Venham e comprem leite e vinho, que tudo é de graça. Por que vocês gastam dinheiro com o que não é comida? Por que gastam o seu salário com coisas que não matam a fome? Se ouvirem e fizerem o que eu ordeno, vocês comerão do melhor alimento, terão comidas gostosas. Escutem-me e venham a mim, prestem atenção e terão vida nova. Eu farei uma aliança eterna com vocês e lhes darei as bênçãos que prometi a Davi.” (Isaias 55:1-3)
O Senhor estende a sua graça a todos, não desconhece o nosso caráter, potenciais virtudes e defeitos, mas quer nos alimentar, nos ensinar a verdade; capacitar-nos para aprendermos a reconhecer o que é bom, de fato; concede-nos o seu perdão e, pacientemente espera que respondamos ao seu convite. Deus fez mais do que a “sua parte”; ofereceu o seu próprio filho como oferta pelos nossos pecados, abrindo as portas do seu Reino a todos, mas cada um precisa decidir, diariamente, se quer ter esse acesso ou não.