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Casamento, Divórcio e Recasamento



ASSUNTOS INTRODUTÓRIOS

1) As questões relativas a casamento, divórcio e recasamento não parecem ser tão amplas quanto nós, os autores deste trabalho, achávamos no início de nosso estudo. Chegamos às conclusões muito mais rápida e facilmente do que imaginávamos no princípio. Uma vez dito isso, reconhecemos completamente que esse assunto não é tão simples, nem deve ser lidado de maneira leviana. Aplicar os ensinamentos bíblicos sobre divórcio/recasamento às múltiplas situações nas quais as pessoas se envolvem é algo que está repleto de dificuldades. Trata-se de uma questão cuja solução tem se tornado cada vez mais urgente, uma vez que um número cada vez maior de cristãos está envolvido em um contexto de divórcio ou já está passando por situações desafiantes em seus casamentos. O procedimento que adotamos neste estudo é, não apenas lidar com as questões, mas chegar a conclusões unificadas que possam ser compartilhadas com líderes de congregações ao redor do mundo. Caso contrário, podemos cair em contradição, no sentido de aconselhar uma coisa para pessoas divorciadas em uma igreja, e outra coisa para pessoas de uma outra igreja diferente.

2) Há pelo menos dois fatores potenciais de desunião em nossas igrejas nos últimos anos. Primeiramente, fundos religiosos individuais têm levado alguns de nós a querer questionar as coisas, principalmente porque tiramos conclusões precipitadas. Precisamos aprender a lidar com sabedoria com questões mais complexas que não se harmonizam facilmente, especialmente aquelas relativas aos campos de solução mais desafiantes. Isso requer paciência e boa vontade para estudar mais a fundo e evitar que se chegue a conclusões legais (e muitas vezes legalistas) precipitadas. Em segundo lugar, o desejo por soluções rápidas pode nos levar a avaliar de maneira superficial algo que Deus leva muito a sério. Resoluções rápidas são frequentemente atraentes, mas, com o tempo, voltam a nos assombrar. Fazer as coisas de acordo com a vontade de Deus não é normalmente o caminho mais fácil a curto prazo, mas, a longo prazo, compensa muito.

3) Mesmo quando as pessoas se divorciam por razões biblicamente corretas, isso acarretará um dano por toda a vida e não podemos lidar com esse problema de forma leviana. Devido à complexidade da questão, é fundamental avaliar muitas escrituras a fim de se obter uma visão mais clara. Não se trata de uma questão como o batismo, em que um versículo nitidamente esclarece a solução e outros versículos meramente reforçam essa resolução. Para se obter uma visão bíblica sobre divórcio e recasamento, vamos começar este estudo avaliando as passagens do Antigo Testamento e, daí, passaremos às escrituras do Novo Testamento que diretamente esclarecem os problemas que enfrentamos hoje. Nosso enfoque será as sociedades caracterizadas pela monogamia. Portanto, a questão da poligamia não será alvo deste estudo.

4) Qualquer estudo sobre casamento, divórcio e recasamento precisa começar com a visão de Deus sobre o divórcio, que é clara e sucintamente relatada em Malaquias 2:16: “Eu odeio o divórcio”, diz o Senhor, o Deus de Israel. Aqui Malaquias adverte os maridos a permanecerem fiéis às esposas da sua juventude. Obviamente isso era um problema para a cultura da época. Por que permanecer fiel? Porque Deus odeia o divórcio. Qualquer estudo sobre divórcio e recasamento deve reconhecer qual é a posição de Deus sobre a questão: Deus odeia o divórcio. Uma vez que Deus leva a sério os nossos votos de casamento, nós também temos que levar isso a sério. Em Eclesiastes 5:4-6, lemos: “Quando você fizer um voto, cumpra-o sem demora, pois os tolos desagradam a Deus; cumpra o seu voto. É melhor não fazer voto do que fazer e não cumprir. E não diga ao mensageiro de Deus: “O meu voto foi um engano”. Por que irritar a Deus com o que você diz e deixá-lo destruir o que você realizou?”.

Provérbios 2:17 descreve a mulher imoral como aquela “que abandona aquele que desde a juventude foi seu companheiro e ignora a aliança que fez diante de Deus”. Portanto, é óbvio que os votos do casamento são da mais alta seriedade diante de Deus.

5) Devemos manter continuamente diante das pessoas tanto a visão de Deus sobre o casamento ideal, quanto sua visão sobre o divórcio. Os membros da igreja não devem considerar o divórcio como uma opção. Em nossos aconselhamentos pré-maritais, devemos salientar que Deus odeia o divórcio. Devemos manter um alto padrão de ajuda aos discípulos casados no sentido de conservarem sua união matrimonial feliz até o fim.

ANTIGO TESTAMENTO

6) A revelação de Deus se iniciou com a criação do homem, seguida rapidamente pela instituição do casamento, uma vez que “não é bom que o homem esteja só” (Gênesis 2: 18). O ideal de Deus para o casamento era claro: um homem para uma mulher. Os versículos que mostram a visão do casamento na mente de Deus se multiplicam. De fato, Deus sempre usou o relacionamento entre marido e mulher como a melhor descrição da sua aliança com os seus escolhidos (Isaías 54:5-8; Jeremias 3:14; Oséias 1-3).

7) As leis do Antigo Testamento que se referem a casamento e divórcio mostram claramente que Deus é extremamente sério sobre a fidelidade no casamento e a santidade do acordo matrimonial. Um homem israelita não poderia se casar com parentes mais próximos, ou com uma ex-esposa que havia se casado novamente e se divorciado, ou com nenhuma mulher gentia (excluindo cativas de guerra).Se fosse constatado que uma mulher recém-casada não era virgem, ela deveria ser apedrejada até a morte, como também deveriam ser apedrejados um homem e uma mulher que dormissem juntos quando ela já estivesse prometida em casamento a um outro homem (se isso acontecesse no campo, então, apenas o homem seria morto e a mulher seria considerada inocente).Se um homem seduzisse uma virgem não comprometida em casamento, então, ele teria que pagar o preço pela noiva e se casar com ela (se o pai concordasse) e jamais poderia se divorciar dela.Filhos ilegítimos (nascidos fora do casamento) tinham que ser excluídos da assembleia do Senhor.

8) Apesar da seriedade dos votos do casamento, Deus permite o divórcio. A melhor passagem do Antigo Testamento sobre isso está em Deuteronômio 24:1-4:

“Se um homem casar-se com uma mulher e depois não a quiser mais por encontrar nela algo que ele reprova, dará certidão de divórcio à mulher e a mandará embora [2]. Se, depois de sair da casa, ela se tornar mulher de outro homem [3], e este não gostar mais dela, lhe dará certidão de divórcio, e a mandará embora. Ou se o segundo marido morrer [4], o primeiro, que se divorciou dela, não poderá casar-se com ela de novo, visto que ela foi contaminada. Seria detestável para o Senhor. Não tragam pecado sobre a terra que o Senhor, o seu Deus, lhes dá por herança.”

9) Aqui um homem é instruído no sentido de que, se ele encontrar em sua esposa algo indecente ('erwat dabar), então ele lhe dará uma certidão de divórcio (seper keritut). Essa certidão dava à mulher o direito de se casar novamente. O ensino de Jesus nos ajuda a entender que Deus permitia o divórcio debaixo dessa legislação devido à dureza do coração da humanidade (Mateus 19:8). Os homens estavam abandonando suas esposas sem direitos ou privilégios. O propósito dessa lei era aparentemente forçar o marido a calcular seriamente os custos antes de se divorciar de sua esposa (uma vez que ele não poderia se casar com ela novamente mais tarde) e estabelecer alguns direitos para as mulheres nesse ambiente injusto. Deus ama a justiça. Ele permitiu que o divórcio fosse estabelecido para o seu povo, sob a lei de Moisés, apenas para atender a uma necessidade prática.

10) Esse algo “indecente” encontrado em uma esposa tem sido muito debatido. Na época de Jesus, duas escolas de pensamento predominavam. Um grupo acreditava que a indecência era a imoralidade enquanto outro cria que era qualquer coisa que desagradasse ao marido. Uma vez que Deus odeia o divórcio, certamente não poderia ter sido algo trivial. Por outro lado, embora fosse algo muito sério, parecia não ser uma imorali